Diretora Global de Marketing e Mentora de Carreiras Anna Moreno Damico

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Foto: Divulgação/Ana Moreno Damico

Maternidade e Carreira, duas forças que se completam

Anna Moreno Damico, brasileira, 37 anos, natural de Santo André – SP, filha de pais esportistas de grande notabilidade no esporte brasileiro. Graduou-se em Publicidade e Propaganda e teve uma carreira de 15 anos como jogadora de voleibol.

Vive em Boston – EUA com a família: esposo e quatro filhos, desempenha atividades em uma grande empresa multinacional como Diretora global de Marketing e é também empreendedora na área de Mentoria de Carreiras.

“O meu grande jargão: – Se não eu, quem? para fazer acontecer, para dar conta de tudo; principalmente das coisas que eu decidi criar. 

Meta sem execução é só mais um sonho perdido”. 

Revista Meta:Conte-nos um pouco de suas origens familiares. Em que cidade nasceu e quem são seus pais? 

Anna Moreno Damico: Nasci em Santo André no ABC Paulista. Sou filha de atletas: meu pai Antonio Carlos Moreno foi um grande astro do voleibol brasileiro. Esteve em 4 Olimpíadas como capitão (Munique, Moscou, México e Montréal) muitos SulAmericanos e PanAmericanos. Jogou com grandes nomes que conhecemos até hoje (Xandó, Bernard, Bernardinho, Willian, dentre outros…). Meu pai teve uma participação expressiva na história do vôlei nacional e eu morro de orgulho dele. Sentimento idêntico com a minha mãe, Selma Moreno, que também foi do ambiente esportivo por décadas. Trabalhou com Seleções de Ginásticas e conquistou muito nesse meio. Sempre foi uma grande apoiadora e incentivadora da vida saudável. Meus pais se conheceram na faculdade de Educação Física; meu pai era professor da minha mãe. E naturalmente todos os meus irmãos e eu crescemos nesse ambiente esportivo, fomos todos encorajados a fazer esporte e o vôlei era predominante em casa. 

Meus irmãos mais velhos continuaram no circuito; são técnicos até hoje, jogaram e jogam muito. O caçula jogou tênis por muitos anos (alguém tinha que quebrar o favoritismo do vôlei, risos). Mas esse meu “background” fez toda a diferença na minha criação: valores como disciplina, garra, determinação, humildade, espírito de equipe, liderança; ensinamentos da quadra que eu carrego comigo até hoje.

Revista Meta: Como foi sua carreira no esporte? 

Anna Moreno Damico:Comecei a jogar vôlei muito cedo em São Caetano do Sul, boa parte da minha vida. Joguei em São Paulo, São Bernardo do Campo, por quase 15 anos até chegar na categoria adulta por Santo André. Foi quando comecei a tomada de decisão; seria profissional do vôlei ou iria trilhar um caminho de estudo e de trabalho. 

Decidi me aposentar, pendurar a joelheira quando tinha 21 anos, porque já estava no penúltimo ano da faculdade e queria encontrar um estágio.

Foto: Divulgação/Ana Moreno Damico

Revista Meta: Qual sua formação? Por que decidiu por ela?

Anna Moreno Damico: Frequentei a faculdade de Publicidade e Propaganda na Universidade Metodista de São Paulo. Sempre soube que queria carreira orientada para humanas, por ser muito criativa e comunicativa. Sabia que minha carreira teria alguma vertente de comunicação e marketing. Sou apaixonada pela minha carreira e muito feliz com a escolha profissional que fiz, mas nem sempre foi óbvio; meu caminho de mundo corporativo.

Revista Meta: Quais foram suas experiências profissionais anteriores e ocupação atual?

Anna Moreno Damico: Entrei para o mundo corporativo, em uma grande Consultoria Estratégica em São Paulo em 2006 e foi aí que eu me apaixonei perdidamente pelo universo corporativo. Comecei a trabalhar com marketing institucional, relações públicas, eventos, comunicação interna, endomarketing. E estou na carreira e na mesma indústria há quase 17 anos.

Revista Meta: Em algum momento cogitou deixar a carreira por conta da rotina da maternidade?

Anna Moreno Damico: Eu nunca cogitei parar de trabalhar por conta dos filhos. Ser mãe sempre foi um grande sonho, venho de uma família grande; tenho 5 irmãos. Meus pais estão casados há mais de 40 anos, então venho de uma família muito tradicional, ambiente familiar muito sólido. Eu já trabalhava antes de encontrar meu marido, antes de sonhar em casar, antes de decidir ter filhos, até mesmo antes de ter idade para isso. E essa carreira me custou muito, exigiu muito de mim. Então, decidi que iria em frente com o sonho da maternidade, com o sonho da família, sem abrir mão do meu sonho profissional. Sempre gostei muito de trabalhar, sempre fui muito intensa. Eu era aquela estagiária que chegava cedo e ia embora tarde, a que levantava a mão, perguntava onde e como poderia ajudar e ser mais útil. Pedia feedback antes mesmo de saber o que era “feedbcack”. Sempre tive essa ânsia, vontade, desejo de entregar mais, de surpreender e superar expectativas. 

Minha carreira foi crescendo, se solidificando enquanto amadurecia a ideia de ser mãe.

Decidi que seria mãe e profissional, não abriria mão do sonho de ter filhos em prol da minha carreira e também não pausaria minha carreira pelo sonho de ter filhos.

Revista Meta: Hoje ainda trabalha presencial ou home office?

Anna Moreno Damico: Hoje eu trabalho no esquema 100% flexível, home office basicamente. Tenho uma cadeira internacional, sou Diretora Global de Marketing. Meu time está literalmente espalhado pelo mundo, funcionários na Índia, na Europa, na Ásia e alguns nos EUA. O fuso horário permite que eu tenha bastante flexibilidade. Hoje para mim, isso é basicamente uma condição, não somente o fuso horário, a cadeira global, ou o cenário pós-pandemia. O momento em que eu não trabalhar mais nessa empresa, ou com essa cadeira ou embaixo da liderança que tenho hoje; preciso encontrar um emprego que tenha toda essa flexibilidade e autonomia porque é o que funciona para mim. Gerencio a minha agenda com muita responsabilidade, sou o tipo de profissional orientada a resultados. Sei exatamente o que preciso entregar todas as semanas, todas as 

sextas-feiras, todo final de mês. 

Foco nisso, lidero meu time e funcionários com foco em resultados.

Não sou aquele tipo de chefe apegada em horas, jornada de trabalho; se está on-line on não, se entrou mais cedo ou mais tarde.

Eu acredito que somos todos adultos (risos), já tenho muitos filhos e todo mundo tem que ser responsável pela própria performance, pelo próprio trabalho.

Revista Meta: Como é sua gestão de tempo, emprego, mentoria, filhos, marido?

Anna Moremo Damico: Tenho muita flexibilidade, por exemplo: morando fora do Brasil, estou na minha segunda expatriação; hoje moro em Boston. Meu marido foi transferido a trabalho em 2018 e viemos com 2 filhos na época e não temos redes de apoio aqui. “Redes” de apoio como babá, funcionária, faxineira, motorista todas as comodidades e os privilégios que eu até tinha na minha vida em São Paulo. 

Inclusive família, uma mãe, sogra, prima, vizinha; uma vovó por perto para “quebrar aquele galho” de vez em quando. Então, sou eu e meu marido e a gente precisa dar conta de tudo. Um leva as crianças para escola, outro busca. Às vezes um está fazendo o jantar, o outro está dando banho nas crianças. Enquanto um está preparando as lancheiras do dia seguinte, o outro está lavando roupas.

A função doméstica é 24 horas, a casa precisa ser cuidada, gerenciada, mantida: roupas, louças, crianças, logística (buscá-los e levá-los) para a escola todos os dias.

A gente tem que se dividir e o trabalho precisa entrar nesse esquema, na rotina, ou seja, eu sou aquela mãe que irá chegar atrasada no trabalho de manhã, por exemplo, porque foi levar as crianças para a escola e levou o outro filho ao Pediatra. Também sou aquela mãe que irá colocar as crianças na cama e voltar para o computador e entregar aquilo que ficou pendente ou que não conseguiu resolver durante o dia. Reconheço que sempre tive a sorte de trabalhar para líderes admiráveis, flexíveis e orientados para resultados. A minha última gestão era uma sócia sênior baseada em Tóquio, então eu reportava para o Japão, e isso trazia uma grande aventura para minha agenda. Reunião às 7h da manhã ou às 23h não eram ocasiões raras por conta do fuso horário dela, mas isso também me dava bastante flexibilidade. Ela falava: “Anna, controle sua agenda, eu confio na sua capacidade de gerenciar seus horários, suas entregas, o seu time, a motivação, a produtividade. Faça o que funciona para você; só me entrega o que você precisa me entregar.” Então, é exatamente esse tipo de gestão que também entrego para os meus times.

Gostaria que mais empresas, lideranças, claro, salvo às devidas condições de cada natureza de trabalho, mas que as pessoas fossem mais orientadas a resultados.

Acredito que ajudaria muito no trânsito, na gestão do bem-estar das pessoas. Sem contar que encoraja a produtividade, autonomia, confiança; diminui o microgerenciamento, a fofoca, a insegurança e a “rádio peão”.

Os profissionais se sentem mais capazes, prontos e aptos para entregarem seus trabalhos, porque são donos de suas próprias agendas e rotinas. Trabalhando em home office tenho liberdade, por exemplo, agora estou fazendo uma caminhada (são 15h aqui); saí do computador um pouco. Na volta já pego as crianças na escola (no ponto de ônibus, na verdade), volto para casa, dou um lanche para eles e volto a trabalhar. 

À noite, depois que eles dormem, volto ao trabalho. Vou encaixando o meu trabalho, minhas reuniões juntamente com a minha rotina de casa e minha família.

Revista Meta: Você foi expatriada duas vezes, na primeira ainda sem filhos. Qual foi o maior desafio nessa transição já com filhos pequenos?

Anna Moreno Damico:Expatriação com filhos tudo muda, tudo fica muito mais complexo, mais difícil. Na minha primeira expatriação era somente eu e meu marido, tudo tinha gosto de aventura. Me lembro que demoramos uns 3 meses para comprar um colchão, ficamos dormindo em um colchão inflável, aqueles 

de acampamento.

Pedíamos pizza, porque era o que cabia no orçamento, assim, 4 vezes na semana. Uma pizza de $9 (risos) que tinha no mercado. Com filhos você não pode fazer isso, as crianças não irão dormir em um colchão inflável por muito tempo, até porque elas irão pular no colchão brincando de pula-pula e irão estourar o colchão. E você não pode fazer uma alimentação das crianças baseada em pizza.

Assim que fui transferida para Boston lembro que minha primeira preocupação, antes de ter certeza da nossa casa, do meu emprego eram pediatras, médicos, dentistas, hospitais e escolas. Eu tinha que ter o plano de contingência das crianças no lugar definido antes de ter o plano dos adultos no lugar. Ou seja, as crianças, viram prioridade, ao mesmo tempo que se adaptam e se adaptaram muito rapidamente; aprenderam a falar inglês rapidinho também.

Sinto que as crianças precisam de pais presentes e amorosos; isso gera segurança, elas fazem amiguinhos com facilidade e se comunicam da maneira delas. Normalmente são os adultos que complicam as coisas; crianças “tiram de letra”, a gente só precisa estar com o suporte, a segurança, a integridade deles garantida.

Revista Meta: O que a fez continuar trabalhando no regime CLT, mesmo empreendendo como Mentora de Carreiras?

Ana Moreno Damico:Alguns motivos que me fazem continuar no regime CLT são:

Número 1: Sou apaixonada pela minha carreira corporativa, realmente gosto, me sinto desafiada, motivada e encorajada. Então, não tenho motivos para deixar minha carreira.

Número 2: Eu tenho muitas ambições, sou uma mulher ambiciosa e ainda não cheguei (risos) onde eu gostaria e almejo chegar.

No meu plano de carreira ainda tenho vários degraus para percorrer, vou continuar até chegar e conquistar cada um deles. Mas principalmente eu acredito que para trabalhar como Mentora de Carreiras e ser uma profissional muito boa no que eu faço, estando nas trincheiras e no dia a dia, me qualifica e credibiliza muito. Sou exatamente aquele chefe de cozinha que ensina outras pessoas a cozinharem e tenho o meu próprio restaurante. Cozinho, corto cebolas, provo comida diariamente.

Hoje vejo muitos “gurus”, e outros mentores que até tentam se posicionar como mentores de carreira porém estão aposentados há 10-15 anos; com todo o respeito, o cenário é outro hoje em dia. Não dá mais para você estar fora do mercado de trabalho há mais de 10 anos e achar que você tem credibilidade, bagagem, repertório para aconselhar as pessoas.

O mercado mudou muito principalmente no cenário pós pandêmico. Então acredito que estar no dia a dia, ter uma carreira na prática e ter: chefe, prazo, feedback, ter que contratar, demitir, ter problemas reais de carreira; me dá insumos, repertório, musculatura para aconselhar ainda melhor meus mentorados, alunos e clientes porque estou vivendo exatamente no dia a dia 

os mesmos problemas que eles.

Revista Meta: Como começou a ajudar as pessoas na carreira e como o Instagram entrou nisso?

Anna Moreno Damico: Eu era uma usuária normal do Instagram, usava como uma rede social e entretenimento. Comecei a compartilhar de forma muito espontânea, muito natural o meu dia a dia. Os bastidores do trabalho, fazendo uma reunião com uma criança no colo. Em licença maternidade, no dia a dia de uma mãe que trabalha, também comecei a dar dicas de carreira. Conteúdos baseados no que lia e que me interessavam, lia um artigo legal sobre entrevista de emprego eu comentava: “Pessoal olha que bacana, acabei de ler isso aqui e tal”. Ou então, eu lia um artigo internacional traduzia, e comentava: “Acabei de ler na Harvad Bussiness Review, top 3 recomendações para novos gerentes”.

Comecei a compartilhar e as pessoas começaram a gostar; então começou muito inocente, de forma bem espontânea, sem nenhuma pretensão de crescer. Só achava que poderia ser útil.

O Instagram até então era prato de comida, foto de asas de avião, fotos de cachorros, de gatos e eu queria ser um pouquinho mais intelectual, no sentido de: se as pessoas estão consumindo esse conteúdo acho que eu posso ajudá-las.

E para mim o Instagram foi uma ferramenta fácil e rápida para fazer isso. 

Eu já produzia conteúdo mais profissional no LinkedIn. No LinkedIn sempre me posicionei como autoridade nas minhas áreas de atuação que era: marketing, relações públicas, comunicação interna, relacionamento com os funcionários, employer branding.

Mas o Instagram trouxe um pouquinho mais de vida real com os bastidores da minha vida como gestora e mãe. E as pessoas começaram a gostar bastante, então elas reagiam, conversavam e falavam: “Nossa esse assunto é ótimo, fale mais a respeito ou, nossa Anna, lidei com uma situação parecida no meu trabalho.” E começaram a tirar dúvidas comigo. Isso durou mais ou menos 1 ano a 1 ano e meio; uma produção de conteúdo independente e interação com as pessoas.

Elas recomendavam o meu perfil e começou a crescer e vem crescendo, porém sempre de forma muito orgânica, de novo, muito natural, muito tranquila. Era a Anna mostrando ali o dia a dia dela e as ideias que ela tinha como líder.

Esse movimento cresceu e ganhou um pouco mais volume, musculatura mesmo e virou um business quando eu já morava nos EUA, ou seja, eu fiquei 3 anos praticamente no Brasil, produzindo conteúdo, mas eu senti que havia uma oportunidade ali na mesa quando as pessoas começaram a perguntar quanto eu cobraria por 1h de mentoria, quanto eu cobraria uma palestra, se eu tinha agenda para mentoria individual. Eu respondia, “Não, eu não atendo, não sou mentora, não sou coach, nada nesse sentido.” Mas o interesse das pessoas de forma concreta, consistente e constante me ascendeu uma ideia. “Acho que eu daria certo nisso daqui; gosto tanto desse assunto, me interesso tanto, não paro de estudar; porque será que não posso aproveitar e transformar em um Side Business, num projeto paralelo de forma mais organizada, estruturada e não somente essas dicas soltas.”

Foi assim que falei: “Opa, tem uma oportunidade de criar um negócio aqui”.

Aqui nos EUA, na licença maternidade da minha filha número 3, já havia tido duas gestações, então eu já sabia mais ou menos como que seria o “esquema” falei: Vou ficar um pouco ociosa e entediada na licença maternidade (risos). 

Precisa ser muito “maluca” como eu para sentir tédio na licença maternidade, onde a mulher não descansa, não dorme; mas enfim somente por me afastar do meu trabalho formal eu decidi criar mais conteúdo.

Sendo assim, uma semana antes da minha filha nascer eu falei para o pessoal no Instagram: “Pessoal, eu vou criar uma newsletter toda semana com mais dicas, com mais conteúdo; se você tiver interesse mande seu e-mail.” 

Então, comecei a escrever uma newsletter semanal com podcasts, vídeos com conteúdos que me interessavam, conteúdos de carreira e liderança e por causa dessa newsletter o negócio cresceu bastante. 

Então os pedidos por mentorias, palestras começaram a aparecer; foi nessa hora que sentei com meu marido e falei: “Gostaria de abrir uma empresa, e começaria a cobrar.” Estruturei e assim a minha empresa saiu do papel.

Uma orientação estratégica para planejamento e aceleração profissional e assim me posicionei como especialista no mercado de trabalho e comecei a oferecer mentorias individuais, mentorias empresariais para grupos, palestras, treinamentos e aulas.

Foto: Divulgação/Ana Moreno Damico

Revista Meta: Qual seu maior desafio ou dificuldade hoje?

Anna Moreno Damico: Meu maior desafio hoje sem dúvida nenhuma é equilibrar os diferentes papéis que desempenho. Não permito com que nenhum dos meus papéis, com que nenhuma das “Annas crie rivalidades entre si. Não faço a Anna profissional brigar com a Anna mãe, não faço a Anna mãe brigar com a Anna esposa.”

Eu me vejo como uma grande pizza que tem várias fatias; uma malabarista que precisa manter certas bolas no ar. O maior desafio para mim com certeza é ser a profissional que eu quero ser, porque sou uma mulher muito ambiciosa, eu adoro trabalhar, mas também ser a mãe que preciso ser.

Tenho quatro filhos pequenos que precisam de mim; eles precisam de ajuda para comer, para se vestir, para tomar banho. Uma casa que precisa ser gerenciada, mantida e para mim é um grande desafio equilibrar as minhas paixões, as minhas aspirações. Coisas que quero ser e fazer com responsabilidades que preciso desempenhar.

Então, todos os dias faço com que isso não seja um fardo e sim uma tarefa prazerosa, com definição de prioridades. 

Por exemplo: essa semana a minha filha retirou as amígdalas, foi internada e o pós-operatório foi um pouquinho mais complicado do que o esperado, tive que cancelar muitas reuniões e perdi dois clientes porque tinha uma palestra vendida e precisei ficar no hospital; minha filha foi aquela prioridade da semana.

Agora estou recuperando o tempo “perdido” no meu trabalho, porque tive que me dedicar. A Anna mãe que foi soberana essa semana comparada com a Anna profissional. Esse é o meu maior desafio.

Fazer com que todas as Annas coexistam, que elas convivam em grande harmonia, que uma apoie a outra, que uma cubra a outra e não que elas criem rivalidades ente si fazendo da minha vida um “inferno”. Acho que o que ajuda bastante em relação a esta coexistência de vários papéis é a minha instalação na realidade.

Falo sempre que gosto de “me instalar na minha realidade” e arcar com as consequências das minhas decisões, isso chama-se maturidade, é a vida adulta. Também falo bastante: Quem faz o que quer é criança; adulto faz o que tem que ser feito. E eu não me culpo, não fico choramingando pelos cantos, não fico me martirizando, me vitimizando; detesto papel de vítima.

Tenho a vida que eu quero ter, e isso significa ônus e bônus.

Tenho essa quantidade de filhos porque eu quis ser mãe de vários filhos; trabalho nessa intensidade porque gosto de ser essa profissional.

Decidi empreender, mesmo tendo pouquíssimo tempo livre porque sinto prazer nisso; então a minha vida, minha rotina é muito intensa, ela exige tudo de mim. 

Mas eu me instalei nessa realidade.

Criei essa realidade para mim, então preciso fazer acontecer, não reclamo por causa disso, não responsabilizo ninguém por conta disso.

Essa é a minha vida, a minha jornada.

O meu grande jargão: “Se não eu, quem?” para fazer acontecer, para dar conta de tudo; principalmente das coisas que eu decidi criar.

Revista Meta: Com sua experiência em mentorias qual a maior dificuldade das pessoas em estabelecer uma carreira bem-sucedida?

Anna Moreno Damico: Vou atribuir maior dificuldade em duas grandes dificuldades.

Uma é a Persistência: vivemos a era do imediatismo, das recompensas imediatas; as pessoas não investem mais no longo prazo e carreira é jogo de longo prazo.

O que queremos?

• Inscrever na academia e emagrecer em 1 semana;

• Começar uma dieta e perder 10kg em 48hs;

• Fazer 1 aula de inglês e falar inglês fluente.

Somos assim, das recompensas imediatas, dos resultados instantâneos, achamos que a vida é um grande Drive Thru do McDonalds que encostamos na janelinha, fazemos um pedido e temos o que queremos na próxima cabine.

E a vida não é essa, a vida é construção.

E carreira, de novo, é jogo de longo prazo, as pessoas desistem, não persistem. Elas precisam insistir. 

Um dos grandes segredos de uma carreira
bem-sucedida está na consistência; fazer todo o dia o que você tem que fazer de forma bem feita, consistente, sem desistir, sem esperar que alguém faça por você, sem esperar resultados da noite para o dia.

As pessoas querem fórmulas mágicas, receitas de bolo, e não existe. Uma carreira sólida é construída no dia a dia, em cada: 

• Promoção suada; 

• Aperto de mão; 

• Relacionamento;

Network;

• Não recebido;

• Porta na cara que foi fechada;

• Oportunidade negada;

• Rejeição; que pode ser considerada como oportunidade de redirecionamentos.

Um dos grandes vilões das pessoas hoje é realmente a falta de insistência, persistência, constância para continuar trabalhando e seguindo em frente. O segundo grande desafio é que as pessoas não se vendem e principalmente as mulheres, eu levanto muito essa bandeira. E você precisa se vender, marketing pessoal é importante sim e não tem nada a ver com arrogância. 

Sua marca pessoal, projetos e conquistas: levar seus feitos para quem importa e toma decisão é fundamental no ambiente de trabalho. 

O bom trabalho não fala mais por si só, se o seu chefe não tiver visibilidade do que você faz, raramente será lembrado ou lembrada na hora daquela promoção. Costumo orientar meus mentorados, clientes e alunos que, quando as lideranças se reúnem no meio ou final de ano para decidirem quem será promovido ou demitido, essas grandes decisões de carreira são alicerçadas e pautadas não com base no que você fez, mas no quanto as pessoas sabem sobre o que você fez. 

Então, trazer visibilidade em relação ao seu trabalho e esforços é fundamental.

Precisa sim se promover, falar bem a seu respeito. Quando achamos que o nosso trabalho fala por si só, que basta comparecer, entregar e ir embora no final do dia irá garantir um crescimento, exposição, acesso, influência estamos redondamente enganados.

Todo mundo compete por exposição e atenção da liderança, cada um precisa fazer a sua parte sim, ou seja, precisa se promover sim.

Revista Meta: Como aconteceu sua transferência para Boston, você planejou ou foi surpreendida com a proposta?

Anna Moreno Damico: A transferência para Boston foi uma grande surpresa na nossa família; meu marido foi transferido. Ele trabalhava em uma multinacional no Brasil, assim como eu.

Mas por grande coincidência do destino as duas matrizes das nossas empresas, por mais que sejam diferentes indústrias, eram em Boston.

Então ele recebeu um convite muito bacana na época para assumir uma cadeira na América do Norte e aceitou (porque sempre tivemos desejo de termos uma carreira internacional), já havia morado em Nova Iorque e sempre tive o desejo de sair do Brasil novamente e continuar construindo uma carreira internacional. Então sinalizei para os meus chefes: “Olha, meu marido foi transferido, recebeu uma proposta e vou acompanhá-lo, não apoiar o meu marido não é uma opção e adoraria continuar na empresa, não gostaria de pedir demissão, gosto muito do que faço, visto a camisa, gosto muito de vocês.”  A transferência nos pegou de surpresa, tivemos alguns meses para conseguir me planejar e graças à boa reputação que eu tinha na época, bom relacionamento e claro, líderes incríveis que sempre me apoiaram, me valorizaram e me reconheceram muito. Assim que sinalizei, a recepção foi maravilhosa. “Anna de forma alguma vamos te perder, vamos encontrar uma cadeira para você o quanto antes.” E foi muito bacana, porque realmente uma oportunidade apareceu para mim, assumi um time internacional, fui transferida; o que foi incrível. Porque quando essas transferências internacionais acontecem com filhos, com família; ter o casal com renda faz toda a diferença para se adaptar, se instalar em outro país.  Então, foi muito bom para nós e para as crianças. A transferência não foi planejada do meu lado, porém foi muito bem-sucedida.

Revista Meta: Quais são os primeiros passos para quem sonha conquistar uma carreira internacional de sucesso?

Anna Moreno Damico: Quem sonha com uma carreira internacional, primeiro precisa falar inglês (ponto final).

E não é inglês de viajar para a Disney uma vez por ano, e fala vou para Disney, me viro, viajo de vez em quando, não é esse inglês.

Inglês de turismo, de pedir um café no StarBucks de Nova Iorque não é o de ouvir uma reunião, de apresentar um resultado. 

É para falar inglês mesmo, para ter confiança; não precisa ser a perfeição da gramática, mas precisa se comunicar e entender o que um “gringo” fala.

Uma carreira internacional onde o inglês será o seu principal vilão eu me recuso a ver isso acontecendo. 

Existem tantos desafios para o imigrante, para expatriado enfrentar aqui; que o idioma não seja o seu vilão, o seu grande sabotador, então precisa falar inglês.

O segundo passo com certeza é construir uma rede de contatos internacional. 

Trabalhar em multinacional, grandes empresas ou conseguir se conectar com empresas que tenham operação no país onde você deseja morar.

Tudo faz parte de um grande plano de carreira, se o seu sonho é uma carreira internacional. 

O que irá fazer para chegar até lá?

• Trabalhar em uma multinacional do Brasil e tentar uma transferência interna?

• Fazer um movimento internacional direto?

• Ir para o exterior estudar com um visto de estudante, e sendo estudante, se conectar 

com professores?

• Procurar um estágio?

Enfim, existem vários caminhos.

Se a carreira internacional faz parte do seu plano de carreira, você precisa colocar meta e desenhar todos os passos.

Hoje, felizmente existem infinitos recursos na internet, grupos de estudo, agências de intercâmbios, informações, vídeos, tutoriais e guias de como conseguir uma vaga internacional, como se conectar com Headhunters Internacionais, como escolher uma faculdade internacional para estudar, há várias informações disponíveis. Mas precisa colocar no seu plano de carreira e desenhar os passos práticos para chegar lá. Porque uma meta sem execução é só mais um sonho perdido.

Revista Meta: Qual a sua meta?

Anna Moreno Damico: Muitas. 

Tenho muitas metas, tenho muitos objetivos de curto, médio e longo prazo.

E o mais barato é que acho que a nossa vida é dinâmica, imprevisível às vezes. Cabe a nós sempre fazermos o nosso melhor.

Falo bastante que é a minha dívida com Deus, cada dia que Deus me permite acordar preciso entregar um dia incrível. É ser a melhor mãe que eu puder ser, a melhor profissional que puder ser, a melhor gestora que puder ser, a melhor filha, a melhor esposa porque essa é a minha maneira de agradecer, estar viva mais um dia.

Então eu diria que é uma meta muito ampla, muito subjetiva, mas é viver uma vida tranquila, uma vida boa, criar meus filhos bem, criar bons seres humanos, crianças e pessoas honestas que gostem de trabalho, que valorizem o trabalho, que queiram trabalhar pelo simples fato de serem úteis para os outros, para a sociedade. 

Terem esse espírito de serviço e honestidade é o que eu mais gostaria.

Ter meu casamento em paz, tranquilo; uma relação sólida e feliz com meu marido é a minha meta.

Não tenho metas materiais, sonhos materiais, essas coisas de sonhos de consumo; “x” países ou aquele carrão na garagem, não, não não.

Eu quero ter uma vida tranquila.

Pagar meus impostos (risos), criar os meus filhos, curtir meu marido até a minha velhice, se Deus quiser.

E se eu puder ter uma meta aspiracional mais profissional no sentido de tudo que eu faço como Mentora de Carreiras, gostaria muito de ajudar a moldar a próxima geração de líderes do Brasil.

O que mais vejo hoje em dia são as pessoas reclamando de lideranças tóxicas, culturas tóxicas, ambientes de trabalho tóxicos, chefes ruins, despreparados, centralizadores, microgerenciadores. Se temos tantos problemas assim com as lideranças por falta de preparo, por falta às vezes de caráter, enfim, os motivos são inúmeros; quero ajudar a moldar o futuro.

Se não consigo mudar hoje a realidade atual, irei preparar a próxima geração para que sejam líderes exemplares; como eu gostaria de preparar meus filhos para serem pais e mães incríveis.

Gostaria muito de ajudar a moldar a próxima geração de lideres do Brasil, para que tenhamos um ambiente de trabalho muito saudável, feliz e próspero, com líderes honestos e transparentes que liderem pelo exemplo e sejam muito íntegros em suas decisões.

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