Marcio Keske: Faixa Preta e Voluntário

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Foto: Marcio Keske/Divulgação

Dedicação é a palavra de ordem a um trabalho voluntário de grande importância nos Estados Unidos

Marcio Keske é brasileiro, natural do Rio Grande do Sul, filho de pais também gaúchos, formado em Administração e Teologia, trabalhou em diversas empresas de renome no Brasil.

Atualmente, morando nos EUA com a família: esposa Juliana Keske, pai da Julia e do João, é também CEO da empresa Sports Drive e da Legacy Remolding nos EUA.

Faixa preta de Jiu-Jítsu e esportista atuante tanto para sua atividade física como desenvolvendo projetos de aulas e seminários gratuitos, mais especificamente para instituições com expressiva atuação para defesa das mulheres.

“O esporte sempre foi minha paixão, decidi que irei compartilhar o que recebi de graça; farei isso até morrer” — disse em entrevista à revista Meta, que você pode conferir a matéria na íntegra. 

Revista Meta: Como surgiu o projeto com mulheres e forças policiais nos EUA alinhado ao Jiu-jítsu?

Márcio Keske: Como sou faixa preta desde 2009 e tenho um pouco de experiência nessa área, cheguei aqui nos EUA contactei uma academia que a matriz fica em San Diego na Califórnia. 

O responsável por essa academia, André Galvão, era faixa branca comigo no Brasil lá em 1998 /1999, desde então temos muita amizade e é um dos meus ídolos. Comecei a frequentar e surgiu uma turma de defesa pessoal para mulheres.  Fui convidado para ministrar algumas aulas e consequentemente conheci a Ana que é presidente da Hope & Justice Foundation; uma entidade aqui dos EUA que está criando forças a cada dia e luta contra o tráfico de pessoas e abusos de mulheres — mulheres estas que já tiveram experiências negativas com homens agressores, “predadores”. Comecei então com esse intuito a ministrar aulas e seminários gratuitamente, para essa fundação. Depois disso surgiram alguns policiais, bombeiros, xerifes que treinaram comigo. 

Aqui nos EUA essas categorias são muito honradas e gostam muito de artes marciais e de estarem preparadas; de forma natural vamos seguindo, com uma galera em seminários e aulas particulares de defesa pessoal e Jiu-jítsu. Estando na academia diariamente, acabamos conhecendo uns aos outros e quando um aluno gosta do seu método de aula e ensino, ele o indica para os amigos e de forma natural o trabalho acontece. E em uma desssas oportunidades fui procurado para ministrar aulas também para as Forças Armadas.

Revista Meta: Em relação ao projeto de combate à exploração e agressão de mulheres, você trabalha apenas com a conscientização?

Márcio Keske:Trabalho de forma mais profunda e ativamente, porque aqui nos EUA existe muito tráfico humano. Então, o objetivo deste projeto é treinar a mulher para que ela consiga ter uma chance de escapar de uma situação dessas. Acontece muito o sequestro de mulheres e existem algumas delas no seminário que já passaram por essas situações.  Há momentos na aula em que vejo e sinto alguns traumas que ainda existem em algumas mulheres; em certas posições que são feitas, observo que elas ficam um pouco assustadas, e aí percebo que são traumas do passado. Outras mulheres se preparam para que “caso” isso aconteça, ela saiba o básico. Sempre ministro com uma oração declarando que em nome de Jesus não irá acontecer, porém, sabendo o básico pode fazer a diferença neste momento.

Revista Meta: O que esse projeto significa para você?

Márcio Keske:Na verdade, tudo tem um começo. Deus usou o esporte para me resgatar, tudo lá atrás, hoje se concretiza algo que foi plantado. Como sempre falo: “é a semeadura”, Deus usou o esporte lá em 1996 quando estava envolvido com drogas, baladas, prostituição, etc., Deus usou o esporte para me mostrar o caminho. Depois deste encontro que tive com Jesus, surgiu em meu coração um desejo de poder devolver algo para a sociedade ou na vida das pessoas da mesma forma que recebi de graça. 

Desde então, isso é latente em meu coração, e quando se fala de esportes – a primeira coisa que eu vejo é transformação de vidas e não o dinheiro. E assim une o esporte que transforma a saúde física e saúde mental e a fé que transforma o interior.

Por isso que o projeto que desenvolvi 

­— “Esportes com Jesus” é algo que se completa; porque como somos feitos de: corpo, alma e espírito se não estiverem os três alinhados sempre estarão descompensados. Acredito que “o caminho é muito junto”, e a forma de promover esses seminários e aulas para as mulheres foi também uma forma de entregar algo que recebi lá traz. E essa entrega não cessa mais, enquanto  estiver aqui na terra, sempre será assim.

Revista Meta: E como foi a decisão de se mudar para outro país, no seu caso, para os EUA? Já havia esse plano? Como tudo isso aconteceu?

Márcio Keske:É engraçado, minha esposa sempre falava: — Que desde que nos conhecemos eu falava em mudança de país; sempre recebia propostas de sair do Brasil, de ir para o Japão, Inglaterra, Portugal, e ficava no “fundinho do coração”, porque depois que a gente entrega a vida para Jesus não é mais a gente, não são mais os nossos desejos, mas as confirmações de Deus, aonde Ele quer que a gente esteja. Então, em 2018 eu vim de férias com a família para os EUA e ficamos um tempo passeando por aqui, nesta viagem aflorou este desejo de mudança. E assim ficamos o ano 2018 inteiro orando e jejuando pedindo confirmação de Deus para saber se era da vontade dEle, nos mudarmos para cá. Logo em 2019, depois de muita oração, vieram as confirmações e sentimos que era a hora da mudança mesmo, sabe… de algo novo para nossa vida e nossa família.

Revista Meta: Como foi para sua família toda essa transição?

Márcio Keske:Foi bem difícil no início, porque quando você sai da sua cultura, sai da zona de conforto, novo país, nova língua, e a priori você não tem ninguém, vamos assim dizer, você tem Jesus, óbvio que você sabe que não tem falta de nada, porém além da família, não há mais uma rede de contato para se apoiar. No Brasil você vai criando relacionamento, um ou dois telefonemas chega-se onde quer; aqui (nos EUA) não, é tudo novo, então foi muito desafiador. A questão da língua, dos relacionamentos e também a questão da saudade, no início saudade dos amigos, da família, do ciclo que vivíamos. Porém, vamos nos acostumando, o ser humano é adaptável, Deus nos criou adaptáveis. Fomos nos adaptando, criando novos relacionamentos, conhecendo algumas igrejas e a principal lição que eu tiro desta mudança, desses quatro anos aqui nos EUA é: o fortalecimento da família. Quando existe uma mudança “drástica dessa” ou a família espana, ou ela se fortalece, não tem outra saída. Porque a mudança é muito drástica, se você não estiver aliançado com a família te apoiando e entendendo a mudança, a tendência é espanar.

Vemos isso acontecendo todos os dias aqui nos EUA, muitas famílias se desfazendo por causa disso; ou a família se fortalece ou ela se desfaz.

Graças a Deus, nós nos fortalecemos muito como família nesta adaptação e hoje depois deste tempo estamos adaptados e as coisas estão andando.

Revista Meta: Como foi para você aprender um novo idioma?

Márcio Keske: Ainda estou aprendendo, está difícil. Sendo sincero: “burro velho” fica um pouco difícil. (risos) Agora, o meu filho que está com onze anos fala fluente, dá um baile. Minha filha está ministrando palestras em inglês, minha esposa fala e se comunica muito bem. Eu ainda tenho bastante dificuldade, porém chego lá, com certeza.

Revista Meta: No Brasil você desenvolveu algumas iniciativas além do esporte, como foi empreender em outras frentes?

Márcio Keske: Eu tenho “essa veia” empreendedora; sempre olhei as oportunidades ao meu redor. O esporte é algo que amo, e quando eu consigo empreender dentro daquilo que amo, tudo fica completo. Sempre tive o desejo de empreender porque gosto de desafios novos, então outras áreas também me chamam a atenção. Vejo que as outras áreas são sempre temporárias, e no esporte não tenho esta sensação; sinto que tenho que fazer esta entrega até morrer. Mas as outras áreas de empreendedorismo que tenho são sempre temporárias; começo algo, consigo alicerçar, consigo deixar o negócio legal, rodando corretamente e logo passo adiante; não tenho apego, já o esporte tenho um apego, pois tenho certeza que irá me acompanhar para o resto da vida. É legal, pois essas outras áreas nos fazem crescer, agregar conhecimentos, nos tiram zona de conforto. Quando você domina uma área entra na zona de conforto, quando não domina é desafiador; gosto disso.

Revista Meta: Quais foram seus maiores desafios e o que aprendeu com eles?

Márcio Keske: Eu vejo que um dos maiores desafios da vida de uma pessoa é: “viver um dia de cada vez”, em várias áreas. Porque temos que verdadeiramente depender de Deus e quando a gente tem mudança, seja de cidade, de país, ou trabalho, temos que criar uma fé inabalável.

Por quê? Porque entendo hoje na minha maturidade como homem, como pai de família, como cristão, principalmente, sei que precisa ser um dia de cada vez. Muitas vezes as pessoas repetem essa expressão que já é jargão, mas não vivem verdadeiramente isso; porque quando vim para os EUA comecei a aprender o que é realmente a viver isso na pele. A vida de um imigrante é: um dia de cada vez. Porque aqui não se tem ninguém, quase não tem trabalho quando chega, está no meio de uma mata com uma faquinha em punho tentando desmatar uma floresta. Então, você depende somente de Deus. Um dos maiores desafios aprendidos foi trazer a minha família para este país; uma coisa é quando você vem sozinho, outra coisa quando vem com a esposa e dois filhos. Eu aprendi muito a ser resiliente, a não desistir, a trabalhar minha fé, e saber que o Deus que eu sirvo é um Deus vivo e principalmente aprendi a dar valor nas pequenas coisas, nos pequenos começos, na minha família e entender a humildade, na pele. Às vezes achamos que somos humildes, mas quando passamos por circunstâncias difíceis somos forjados no fogo, aqui eu fui forjado realmente no fogo; eu achei que já era, mas Deus me forjou ainda mais. E isso é um aprendizado, não para me vangloriar, mas para ser uma pessoa melhor, para sofrer com a dor do outro, alegrar com a vitória, e entender que o mesmo Deus que fez milagres no passado continua fazendo no presente. Não posso me esquecer disso.

Revista Meta: Você tem algum livro para indicar? Como você continua aprendendo na vida e no trabalho?

Márcio Keske: Indico o Livro: “Paternidade para as nações” – Luis Hermínio. A vida é um eterno aprendizado passando as gerações aprendemos algo novo. O que sinto é que a gente não pode se fechar no conhecimento antigo, porque muitas vezes por termos vivido muitos anos, achamos que já conhecemos de tudo um pouco, porém as coisas estão se renovando dia a dia. Sempre temos algo a aprender, seja no trabalho, seja com jovens ou os mais idosos; estamos sempre aprendendo. No trabalho, principalmente neste país (EUA) vejo o quanto temos que ter a cabeça aberta para os novos desafios, porque Deus sempre nos dá coisas novas. E se nos fecharmos, não aprendemos; não aprendemos com os desafios novos, não aprendemos com os mais novos, não aprendemos com os mais velhos. Com os mais velhos temos o conhecimento, o aconselhamento; as palavras sábias daqueles que já viveram mais do que nós.

Dos desafios, temos o conhecimento de sair da zona de conforto e aprender com a mão na massa.

E nos mais novos temos o conhecimento da geração atual. Acredito que nesta sequência, aprendemos bastante. E não podemos nos fechar para o aprendizado, vamos morrer aprendendo.

Revista Meta: Você pode contar um pouco sobre o que faz no seu tempo livre?

Márcio Keske: O que mais gosto de fazer no meu tempo livre é ficar com a minha família. Ficar em casa ou um passeio que normalmente é gastronômico, apesar de não sermos “gordinhos” (risos). Se perguntar para minha esposa, ela irá dizer o mesmo. Gostamos de conhecer restaurantes e comidas novas, apesar da minha esposa e eu sermos mais tradicionais nos experimentos, minha filha gosta de “se aventurar” e às vezes embarcamos nas ideias dela. Isso, fora os esportes que sou apaixonado e pratico diariamente.

Revista Meta: Como você cuida da sua saúde física? 

Márcio Keske:Eu tenho uma “médica e nutricionista” em casa, que é minha esposa; como ela tem o dom de mestre, cozinha nos ensinando. Faz os pratos saudáveis e já dá aquela aula de culinária e nutrição. Gostamos de cuidar da saúde alimentar, é uma prática que minha esposa embutiu dentro de casa; apesar de darmos alguns deslizes, gostamos bastante de nos cuidar em relação à alimentação. A saúde nutricional da casa é minha esposa que rege e temos esta preocupação; todos nós somos adeptos às vitaminas preventivas e suplementos. Somos bem ativos nos conhecimentos da Medicina Integrativa.

Revista Meta: Qual é a pessoa que mais te inspira? Por quê?

Márcio Keske:Tenho uma pessoa em casa que é a Ju, minha esposa a principal pessoa que me inspira hoje. E um homem que me inspira a ser segundo o coração de Deus é o Luis Hermínio, eu bebo muito de sua fonte.

Revista Meta: Você é crítico com relação às suas próprias realizações? Poderia nos dar algum exemplo para ilustrar isso?

Márcio Keske:Sim, muito crítico. Se eu erro, não preciso que ninguém me chame a atenção, eu já me chamei. Sou um crítico de primeira linha das minhas ações. Porém, recebo críticas principalmente das pessoas que me inspiram e eu sei que andam retos e isso faz a gente crescer, porque quando a crítica vem das pessoas que verdadeiramente nos amam, isso nos tornam pessoas melhores, abre nossos olhos do que muitas vezes não conseguimos enxergar. Então, quando me crítico e compartilho com a minha esposa, ela me mostra muitas vezes outra visão daquela crítica que estou tendo e este debate que temos como marido e mulher nos faz crescer, tanto eu quanto ela. Porque serve como exemplo para ela e como aprendizado para mim. E às vezes eu olho um lado da história e ela está olhando o outro lado e conseguimos ter uma conclusão daquela situação e crescemos juntos. Então, a crítica sempre foi muito bem-vinda na nossa família, na nossa vida nos criticamos mutuamente, aqui em casa. Visando sempre buscar sermos pessoas melhores.

Revista Meta: Poderia dar um exemplo de uma situação na qual você aprendeu com seus erros?

Márcio Keske:Sim, várias situações. Com meus filhos; com o pastoreio; com as pessoas que muitas vezes mesmo com boa intenção no coração, agi de forma impositiva; e depois entendi que não é, precisa ser por amor. Da mesma forma com os filhos, entender que existe outro lado. Então, muitas vezes os erros que envolvem outras pessoas nos faz refletir para não multiplicar esses erros, nos faz crescer. Sou muito autocrítico também nessa questão, porque não quero falhar no mesmo erro. Quando você comete erros no trabalho e aprende com eles, não quer cometê-los novamente. Mas principalmente é sobre a educação dos meus filhos, que é um fato ao qual estou muito empenhado, estou sempre buscando em Deus essa paternidade. Eu tive problemas com a paternidade. Penso sempre: “o que Jesus faria nessas situações” para não errar. Mas minha filha Julia e meu filho João me ensinam muito em como ser um pai melhor, aprendo demais.

Revista Meta: Recentemente você teve alguma conversa em que não atingiu seus objetivos? O que você fez?

Márcio Keske: Não tive, porque mudei nessa questão. Não espero mais nada. Antigamente tinha expectativas nas minhas conversas, hoje não tenho mais. Hoje vou para uma conversa sem expectativa nenhuma, é legal isso porque ao vir algo positivo você é surpreendido pela expectativa, pois não gerou nenhuma. Portanto, tenho praticado isso, não coloco nenhuma expectativa para não me frustrar e deixar Deus trabalhar da forma que Ele quer.

Revista Meta: Qual a sua Meta?

Márcio Keske: “Minha meta: cumprir verdadeiramente meu propósito de vida agradando assim meu Criador, ser cada dia mais parecido com Jesus, pastorear minha família segundo o coração de Deus, lapidar as flechas que Deus me confiou (meus filhos) e lançá-las para o alvo, semear de alguma forma o amor de Jesus na vida de todos que passam pela minha.”

Revista Meta: Que tipo de inspiração que você quer deixar para nossos leitores? Uma última mensagem.

Márcio Keske:A inspiração é a seguinte: buscar sair da zona de conforto, não ter medo diante dos desafios, crer plenamente em Deus e viver intensamente um dia de cada vez. Quando você deposita a sua fé em Deus com toda a sua expectativa de forma genuína, Ele sempre supri. Então, assim tem sido verdadeiramente a minha vida. 

Uma mensagem: Que todos os leitores desta revista, possam entender que nós temos um Criador, um Deus que nos fez de forma peculiar e única e que Ele jamais falha. Quando nós depositamos 100%, não 99%, 100% da nossa confiança nEle e descansamos,  Ele faz. E diante de cada desafio, de cada obstáculo, de qualquer problema que você se deparar; você possa lembrar que existe um Criador que te fez, que te ouve, que é Vivo, chora e se preocupa com você. Não tem como não falar de fé, sei que não é uma revista Cristã, mas não há como não falar do que vivo verdadeiramente, essa é a minha vida e eu sei de onde Ele me tirou, sei o que Ele fez na minha vida. Então, fica difícil e não há como conversar com vocês e não tocar nesse assunto. 

Não há como conversar com vocês e não mencionar Aquele que me resgatou, porque  sei verdadeiramente de onde Ele me tirou, sei o que Ele fez na minha vida, o que Ele faz e o que está por vir. 

Não há como ser diferente.

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