Uso de telas: Falsa estratégia na educação dos filhos, desconectando para conectar

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Foto: Freepik

Reflexões sobre os Malefícios da Tecnologia e a Importância do Equilíbrio na Era da Conectividade

A tecnologia evoluiu e é importante para nossa sociedade. Não podemos deixar de considerar o quanto essa evolução traz benefícios no desenvolvimento da informação e ciência, além de gerar novos produtos e equipamentos que favorecem infinitas possibilidades de acesso. Em contrapartida, há um uso desordenado que aponta malefícios. Pesquisas indicam que 95% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos utilizam a internet no país, totalizando 25 milhões de usuários (de acordo com pesquisa do Cetic.br, um centro de estudos ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil, com apoio da Unesco). Em 2023, 24% dos entrevistados disseram ter começado a se conectar à internet antes dos 6 anos de idade; em 2015, esse percentual era de 11%. É nítido os prejuízos para saúde em um contexto geral, seja cognitivo, emocional e social.

No dia a dia do consultório, durante os atendimentos de crianças e adolescentes, muitas das queixas giram em torno do uso de telas e da dificuldade para desconectar. Os pais relatam que o uso das telas foi aplicado como estratégia para lidar com a agitação dos filhos, seja por choro ou cansaço, devido à dificuldade que muitos têm em lidar com o choro. O uso de aparelhos tecnológicos, como celular, tablet ou televisão, tornou-se uma forma de manter os filhos ocupados, visto que a maioria das crianças consegue permanecer atenta a jogos e desenhos, principalmente se apresentarem um hiperfoco em temas específicos. Porém, essa tranquilidade é momentânea, logo substituída por recusas e birras sempre que as crianças precisam deixar as telas para realizar alguma atividade solicitada pelos pais. Ao perceberem os problemas causados, os pais se deparam com um desafio ainda maior: tirar seus filhos das telas, que de forma imperceptível tornam-se um vício, afetando o comportamento em casa ou na escola com agressividade, birras, dificuldades de aprendizagem e relacionamento.

Crianças e adolescentes que fazem uso excessivo das telas podem apresentar déficit de atenção, atrasos cognitivos, distúrbios da aprendizagem e do sono, impulsividade e dificuldade em regular suas próprias emoções. Quando estão conectadas, elas deixam de vivenciar o brincar lúdico, que por si só possibilita o desenvolvimento criativo, fundamental para o desenvolvimento infantil. Para Winnicott (1975), o potencial criativo é inato e se manifesta no relacionamento do indivíduo com o mundo, sendo fundamental para o sentimento de “valor do viver”, ou seja, o sentimento de que a vida é significativa e merece ser vivida. Segundo o autor, o desenvolvimento humano está ligado ao desenvolvimento desse potencial criativo, que se desenvolve em paralelo com o desenvolvimento emocional do indivíduo.

Sabemos que o acesso à tecnologia/internet aproxima quem está distante, mas afasta quem está próximo, gerando sentimentos de abandono, solidão, egoísmo, depressão, ansiedade, obesidade, entre outros. Essa realidade é observada, por exemplo, ao frequentar um restaurante, onde a maioria das pessoas está utilizando dispositivos eletrônicos em vez de interagir, conversar ou apreciar o ambiente ao redor. Todos buscam paz, mas mergulham em um mar profundo de esquecimento da criatividade e afetividade, tornando-se seres individualistas, sem encontrar sentido no mundo, na comunidade escolar e social, na vida além das quatro paredes. Isso resulta em adultos cada vez mais fragilizados e com dificuldade para lidar com as frustrações. Ainda há tempo para os pais reverterem essa situação; diminuir o uso de telas é fundamental para uma sociedade saudável. É necessário desconectar para se conectar consigo mesmo, com a família, os filhos e o mundo. Comece hoje, pois embora não seja fácil, é necessário. Caso encontre dificuldades, procure ajuda de um profissional, seja psicólogo ou psiquiatra.

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