Ser boa mãe ou boa profissional? O tabu que ainda rodeia a sociedade
A experiência de ser mãe traz consigo inúmeros desafios e um que vem se destacando é o de conciliar a maternidade com a carreira e ainda se manter saudável, mental e fisicamente. Ser mãe é um aprendizado diário, mas convenhamos, o primeiro ano pode ser desesperador!
Temos um conjunto formado por todo o tipo de insegurança e os questionamentos são frequentes: “Sou uma boa mãe?”, “Meu emprego estará lá quando a licença acabar?”, “Devo voltar a trabalhar fora?”, “Como vou deixar meu filho?” e muito mais. São tantos “serás” somados às mudanças biológicas, psicológicas e sociais, naturais nesse período, que a nossa cabeça se transforma em um turbilhão de dúvidas, medos e algumas vezes, ideias que podem ser transformadoras.
Segundo a Rede de Mulheres Empreendedoras, 70% das mulheres buscam o empreendedorismo como uma opção após a maternidade e 50% das empreendedoras são mães. Com as mudanças no mercado de trabalho pela COVID, não é incomum ver cursos trazendo a possibilidade de trabalhar em casa, seja no próprio negócio ou em funções como assistente virtual e outras, sempre com a mesma promessa: poder cuidar do seu filho, ter uma boa renda e qualidade de vida.
Ser mãe trabalhadora, algo que é tão comum, parece continuar sendo um tabu na sociedade. Quantas empresas ainda deixam de contratar mulheres com filhos, pelo medo de impactar na produtividade em caso de doença? Quantas ouvem nas entrevistas de emprego: “com quem você vai deixar o seu filho?”. Quantas mães são julgadas por “trabalhar demais” e precisar deixar o filho na creche o dia todo, pela necessidade de adquirir renda e garantir a sobrevivência?
Quantas são criticadas por renunciar a uma carreira de sucesso e mudar de área, para poder trabalhar em casa e acompanhar de perto o crescimento do filho? Como se não bastassem os julgamentos alheios, quantas mães diariamente choram sozinhas e se culpam por acreditar que não são boas o bastante? Um prato cheio para abalar a saúde mental.
Minha filha está com 7 anos e como mãe, pude viver um pouco de todos esses dilemas sobre os quais escrevo. Passei pela experiência de voltar da licença e encontrar todo o setor reestruturado, amigos demitidos e um “spoiler” que a minha vez chegaria quando a estabilidade acabasse. Sofri, perdi os cabelos, tive insônia e isso não aconteceu.
Já tirei 3 meses “sabáticos” para ficar com a minha filha quando encerrei um contrato no hospital, durante a pandemia. Foi ótimo, mas ao final do primeiro mês eu já não me reconhecia, pois não era só mãe. Eu era uma profissional e a falta do trabalho, que eu mesma criei, gerou uma crise de identidade.
Dispensei oportunidades incríveis na carreira por não ter uma rede de apoio que me permitisse crescer profissionalmente naquele momento e garantir que minha filha estaria bem amparada durante a minha ausência, que seria inevitável. Já trabalhei em casa, em outra área que não a minha de formação. Já trabalhei demais, no estilo workaholic, sendo super reconhecida profissionalmente, mas chorava diariamente me sentindo uma péssima mãe, mesmo sabendo que fazia o meu melhor.
Hoje empreendo na minha área. Consigo ter um pouco mais de flexibilidade em alguns momentos, em outros, passo dias ausente viajando a trabalho e assim seguimos, acertando e errando, pois a maternidade é essa gangorra de emoções e decisões.
A verdade, mães, é que não há receita ou fórmula mágica que nos permita dar conta de tudo e as soluções (trabalhar fora, em casa ou não trabalhar) não seguem uma regra para garantir sucesso, pois o universo de cada uma de nós é totalmente particular. Em meio a tantos dilemas, o que posso dizer, apesar de tão clichê, é: você não precisa dar conta de tudo e você não vai dar conta. Faça hoje, o que pode ser feito hoje. Cuide da sua saúde, pois não conseguimos fazer bem aos nossos filhos se nós não estivermos bem e não se cobre demais. A equação “maternidade X trabalho de sucesso X saúde perfeita”, tenha certeza, nem Einstein resolveria.