A Lei do Mercado: Desafios e Realidades Pós-Pandemia
Uma vez, um amigo que trabalhava com vendas havia algum tempo antes de mim, me falou: “O mercado está aí, sempre vai estar. O que você precisa fazer é entender como ele funciona”. Isso ficou na minha cabeça como um quebra-cabeça, e ainda está. Ou seja, não importa se você vende carro zero quilômetro, chocolate artesanal ou casas em Miami. Quem manda é o mercado.
E o mercado pós-pandemia decidiu precificar tudo para cima. O melhor exemplo foi o dos carros seminovos. Como a produção caiu durante o período em que as pessoas ficaram em casa, comprar um carro novo se tornou mais difícil e os preços dos usados dispararam. Oferta e procura. Quem pensou que em algum momento haveria uma queda dos preços, isso não aconteceu.
O mesmo se deu com o mercado de imóveis, com valores chegando a patamares bastante elevados, sem indícios de queda. Além disso, com a atual taxa de juros, é preciso ter uma renda bastante alta para comprar um imóvel financiado, seja ele novo ou usado – ou dinheiro vivo, claro. E o mercado não dá sinais de que esteja disposto a um recuo. Pelo contrário. Imóvel sempre se valoriza, no máximo uma estabilidade.
Semanas atrás, antes da tragédia no Sul, fui a um hortifruti perto de casa e me assustei com as prateleiras vazias. O vendedor, que já conheço pela frequência, me contou que não teve como comprar alguns produtos por conta dos preços. “Uma caixa de laranja que custava no máximo sessenta reais, está sendo vendida por cem”, ele me disse. “Não tem como eu repassar para os meus clientes depois”. E agora ainda tem a questão do Rio Grande do Sul, que deve interferir diretamente nos preços de vários produtos, principalmente o arroz (ajude o RS: faça doações).
Como não sou economista e escrevo baseado apenas na minha percepção das coisas, não posso nomear esse fenômeno que está acontecendo agora em que as pessoas estão simplesmente perdendo seu poder de compra. Não, não estou falando de inflação. Inflação é o que vive a Argentina – começando a melhorar, e o que vivemos antes do Plano Real. É um fenômeno diferente.
Tudo subiu, mas a remuneração de uma forma geral, não. Comprar uma casa própria, financiar um carro está cada vez mais distante da realidade de um cidadão comum. Veja na prática o preço de um quilo de maçã, de um carro popular 2018, ou de uma passagem aérea São Paulo-Fortaleza: a demanda não aumentou, mas os preços continuam em alta.
Então, vem a pergunta: como o mercado vai sobreviver? Ele sempre dá um jeito. É o mercado quem manda.